Tendências e Dados do Mercado de Consórcios no Brasil: Por Que o Setor Cresceu Tanto?

Fatores macroeconômicos, preferências do consumidor e um cenário promissor impulsionaram o setor e devem gerar uma nova onda de expansão

O mercado de consórcios no Brasil caiu nas graças do consumidor brasileiro e vive uma boa fase nos últimos anos.

Em 2023, conforme dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) , o setor movimentou mais de R$ 316,7 bilhões – um montante recorde, representando uma alta de 25,6% comparado a 2022.

O volume de participantes ativos consolidados no sistema de consórcios atingiu 10,29 milhões no período – resultado inédito no país – com um aumento de 9,4% em relação ao ano anterior.

Dos seis indicadores analisados pela associação – modalidades de consórcios, quatro registraram alta em 2023: imóveis (20,8%), veículos leves (13,1%), motocicletas (4,0%) e veículos pesados (2,5%).

Na mesma tendência, o número de contemplações de cartas de consórcio atingiu 1,6 milhões, volume 6,6% maior do que no ano anterior. Já o ticket médio subiu de R$ 59,56 mil para R$ 74,24 mil, alta de 24,6% na avaliação ano a ano.

Por que o mercado de consórcios cresceu tanto?

Há diversos fatores que estimularam a expansão da atividade no Brasil.

Um deles é a taxa de juros do país, que saltou de 2% em 13,75% ao ano em 18 meses e se manteve estacionada nesse patamar durante 12 meses.

Mesmo com o Banco Central afrouxando a política monetária, resultando na retração para 10,75% ao ano atualmente, o indicador ainda é considerado elevado.

O que isso significa para o mercado de consórcios?

Com a Selic ainda robusta, o crédito fica mais caro e difícil de ser contratado pelo consumidor. 

Segundo uma pesquisa feita pela Confederação Nacional de Comércios de Bens, Serviços e Turismo (CNC) , 37% dos brasileiros disseram que a tomada de recursos foi “mais difícil” em 2023.

E quem está tentando acessar o crédito pela primeira vez encontra ainda mais dificuldade, por conta de sua falta de histórico de crédito ao longo da vida, atrapalhando no reconhecimento dos verdadeiros bons pagadores. 

Por outro lado, o consumo não desaqueceu, indicando que o consumidor busca alternativas menos custosas e mais acessíveis para alcançar seus sonhos, como o consórcio. 

Conforme um estudo global feito pela TransUninon, 66% dos consumidores considerados “novos para o crédito” ou “NTC (New to Credit) afirmaram que sua necessidade para a obtenção de novos recursos deve aumentar nos próximos anos, o que deve abrir um caminho ainda mais amplo para os consórcios.

Diversificação do Mercado de Consórcios

Considerado um instrumento financeiro utilizado tradicionalmente para a compra de veículos, com o passar dos anos o mercado de consórcios ampliou sua atuação para outros setores da economia. 

Hoje é possível não somente comprar veículos de passeio e motos, mas também caminhões, imóveis e até eletrônicos, incluindo celulares.

Recentemente, a abrangência se estendeu ao setor de serviços, permitindo que o consumidor financie viagens, cirurgias, e tratamentos odontológicos por meio de consórcios.

Os custos e taxas menos onerosas do que as oferecidas por um financiamento tradicional são alguns dos principais pontos que levam muita gente a escolher o consórcio. 

De acordo com dados da ABAC, 46% das pessoas que planejam a compra de um consórcio estão de olho na compra de um imóvel – seja um terreno, uma casa para morar, uma residência de veraneio ou unidade comercial – e 37% querem comprar um carro, novos ou seminovos.

Digitalização: avanço do mercado com a pandemia



A pandemia promoveu grandes transformações em diversos setores, e o mercado de consórcios foi profundamente impactado. 

Anteriormente visto como um produto ultrapassado, o consórcio atraiu novos públicos, incluindo as gerações mais jovens, graças à sua modernização e adaptação às novas demandas ao longo dos últimos anos e a presença de Fintechs especializadas no tema.

Antes da pandemia, o consórcio era tradicionalmente comercializado apenas por meio de agências bancárias ou corretores. 

Com os clientes evitando visitas presenciais aos Bancos, várias administradoras possibilitaram a contratação do produto online, via aplicativo, a realização de lances, acompanhamento das estatísticas do grupo de consórcio de forma digital e até mesmo a contemplação da carta.

Com os processos concentrados no mundo online, as empresas de consórcio também conseguiram reduzir os custos.



Mas, mesmo assim, alguns clientes ainda exigem a presença de um consultor durante a jornada de compra e acompanhamento do consórcio, com o intuito de tirar todas as dúvidas sobre o produto e falar sobre suas características , evitando o cancelamento antes da sua contemplação.

Essa necessidade destaca a complexidade inerente à compra de consórcios, que envolve várias etapas críticas e decisões importantes. 

Conhecer bem o perfil do cliente, proporcionar uma integração eficaz e um atendimento rápido e personalizado entre o online e o offline não é apenas fundamental para o sucesso no mercado de consórcios, mas também um verdadeiro diferencial. 

O setor de consórcios, tradicionalmente conservador e lento para adotar inovações digitais, está começando a reconhecer a importância de adaptar-se às novas demandas dos consumidores. 

Aqueles que conseguirem inovar, oferecendo personalização e uma experiência de usuário coesa entre todos os canais, irão se destacar claramente da concorrência.

O que esperar do setor para os próximos anos?

Segundo projeções macroeconômicas do Relatório Focus do Banco Central , a taxa básica de juros (Selic) não deve cair para níveis baixos tão cedo.

A projeção para este ano subiu para 9,75%, e as expectativas para os próximos anos também indicam uma taxa elevada, com 9,0% previstos para 2025 e 2026, e 8,63% para 2027. 

Este cenário sugere que o crédito tradicional continuará caro, o que deve incentivar a manutenção do crescimento do mercado de consórcios, uma alternativa menos custosa para consumidores e investidores. 

Os consórcios, com suas taxas mais acessíveis e flexibilidade de pagamento, se tornam ainda mais atraente em um ambiente de juros altos, reforçando a posição dessa modalidade de crédito como uma solução vantajosa para aquisição de bens e serviços.

Não é à toa que a pergunta “Consórcio vale a pena?” alcançou um pico de interesse no Google entre os brasileiros .

Nos últimos 12 meses, essa dúvida dominou as buscas na categoria finanças, superando até mesmo questões frequentes como “previdência privada vale a pena?” e sendo a versão mais buscada entre as pesquisas de “...vale a pena?” na categoria Finanças.

Essa tendência reflete um crescente interesse e uma reavaliação dos brasileiros sobre as vantagens dos consórcios em um cenário econômico onde as opções de investimento e compra estão sendo cuidadosamente ponderadas.

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